sexta-feira, 23 de setembro de 2011

não se deixa um grande amor, se perde



Namoro é uma fase de teste. Não o teste do outro, mas de nós mesmos, ou, no máximo, o teste do “nós”. Saber se combinamos, se suportamos as falhas, os defeitos. Não se namora apenas para curtir. Namoro que só se curte não é namoro, é “fica”. Mas o “fica” não fica, senão não é “fica” de verdade. Aliás, o “fica” deveria se chamar “foi”, pois quando a pessoa com que ficamos realmente fica (permanece) conosco, então já não estamos mais “ficando” e sim namorando.
E namoro é o segundo passo do amor. Depois da química, da ansiedade, do medo... aí vem o primeiro beijo, a marca do outro em nós, uma experiência que transcende o olhar, o cheiro, avança para o paladar e se aconchega na memória. Além de doce lembrança, o primeiro beijo é um selo facilmente rompido por aquele que recebeu, como se rompia selos de cartas antigamente, aqueles que só vemos em filmes de época, com a marca de um anel.
Mas, como na carta, o mais importante não é o selo e sim aquilo que está selado. Aquilo que vem depois do selo, que pode ou não ser bom. Por isso há sempre tensão antes de abrir uma carta ou depois do primeiro beijo: haverá um segundo? Ou tudo se encerrará naquele toque de lábios? Naquele abrir de carta? Entre o riso e o choro se instaura a tensão, a ansiedade, a dúvida...
O namoro já é a carta respondida. A continuação da escrita do outro em nós. É uma tatuagem, remover é um sofrimento e custa caro. O primeiro beijo é o aceno do amor, o namoro é já o abraço apertado.
Mas e o “grande amor”? Quando chega? Depois da convivência. Depois que se percebe que na nossa vida já está a vida do outro e vice-versa. Quando ir ao cinema não tem graça sem sua companhia. Estar à beira do rio é pensar em tudo que já vivemos com nosso amor. Quando sentimos a falta do outro nas coisas mais simples. Vendo um filme na sala. Perguntando se ficou boa a roupa que acabamos de vestir, como se a aprovação do outro fosse o último item do vestuário.
E se a vida do outro já está em nós, então deixá-lo é retirar uma parte de nós. E ninguém anda dizendo por aí que deixou um braço ou uma perna, mas que perdera um braço ou uma perna.
Por isso digo que não se deixa um grande amor, se perde. Perdemos pelas palavras não ditas, pela briga que não brigamos para parecer estar bem o que não estava, pelo ciúme exagerado, pela desatenção, pela aparente segurança de não perder, pela presunção de que outro fosse para sempre nosso, pela covardia da traição, pela apatia da repetição (os mesmos programas, as mesmas músicas, os mesmos lugares, etc.). Perdemos por não compreender que o outro é diferente. Porque não fomos capazes de perceber que a perda se fez aos poucos, a cada dia.
E é só quando nos damos conta que o amorzinho já não estar mais ao lado, é só aí que percebemos que ele era na verdade o nosso grande amor. Percebemos que o grande amor só é grande porque se fez de pequenos amores, dos detalhes, como diria Roberto Carlos. Detalhes que de tão pequenos deixaram de existir sem que percebêssemos.
É então que percebemos que não conseguimos viver só, pois ele faz falta até nas fotografias da família. Andamos como se sentíssemos a sombra do outro ao nosso lado, feito um fantasma que está sempre presente para nos lembrar que estamos longe do nosso grande amor.
Repito, um grande amor não de deixa, se perde.

Um comentário:

  1. coisa boa é que o amor voa, as vezes pra longe e as vezes como os pombos que carregam cartas eles vão sim, mas voltam com novidades.
    o amor que se perde então é o amor que se ganha, e quem sabe até onde?
    cada amor é o amor que acontece diferente em cada um...

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